domingo, 26 de junho de 2011

Análise crítica dos textos: “O Fora”, “Sala de Aula”, “Aprender” e “A Psicologia e o mestre”.

Diogo, Gracieli, Jéssica e Rafael


Pontos interessantes encontrados nos textos:
“ O Fora” de Monica Cristina Mussi
“Fora da sala de aula. Fora!”
“Dentro e fora das salas de aulas, aprende-se muito bem a separar o joio do trigo-para não fazer o pão. Ali mesmo onde, na superfície das paredes, as vidas exigem multiplicidades, ..”
“Entre dentro e fora, quanta selvageria repetitiva!”
“Entre o dentro e o fora determinado, corre o galope o caos, um fora não exterior e um dentro não interior”
“É então que, no fora de dentro da sala de aula, alguém pela fresta da janela suja do corredor é tocado pelo vento que faz tremeluzir folhas na árvore.”

“Sala de Aula” deJulioGroppa Aquino
“Não é lugar, mas ocasião. E nem sempre é bom..”
“Mas, se alguém por ventura dele se cansar, eis que vira outra coisa, por exemplo, telefone sem fio”
“Não é palco, passarela, divã, balcão. Ali não se quer expressão, jamais comunicação, migalhas do dito, voragem do dizer. Ou quase.É conversa fiada perdigoto, vociferaço, patatipatata.”
“Não é indumentária de Salomão. É trapo, pano de chão. È roxinol que canta com espinho cravado no peito.”
“Maravilha de quinta categoria, de terceiro escalão.”
“ Em tempo: não é amor, não é ódio. È blefe trapaça e lassidão. E é mais que bom.”
“É fumaça, enfim. E também, quase sempre, solidão.”

“Aprender” de LuisFuganti
“Aprender não é operação simples. É um processo complexo, geralmente submetido a padrões e, por isso, frequentemente experimentado como um acontecimento frustrante e até mortal. Todo nosso procedimento educacional traz uma espécie de desgosto sutilmente dosado em cada etapa do processo de aprendizado, uma vez que o ensino dominante em nossas formações sociais não visa um aprendizado potencializador das forças ativas imanentes aos modos criativos de vida. Ao contrário, é parte integrante dos mecanismos que operam a serviço de poderes de captura de vida, impondo um aprendizado baseado na inoculação de uma insuficiência de ser.”
“Toda experimentação (...) implica um meio de transpor ou lançar-se fora de sí, (...) estabelecendo um ritmo capaz de aprender o que pode atravessar a fronteira e amplificar o ser.”

“A psicologia e o mestre” capítulo XIX do livro psicologia pedagógica de Vigotsky
“Do professor que fica sentado à sua escrivaninha pode-se dizer o mesmo que se diz do sacerdote no púpito sem fé no coração, ele está condenado.”
“Quando o entusiasmo toca a alma tudo se torna vivo e inspirado”
“O trabalho docente tornou-se espaço para onde se canaliza tudo o que há de inadaptado, mal sucedido e fracassado em todos os campos da vida.”
“Se o professor quiser ser um pedagogo cientificamente instruído deve ter um embasamento cultural muito vasto.”
“Em cada sala de aula haverá janelas, um professor de verdade irá olhar de sua escrivaninha para o vasto mundo, para as inquietações humanas, as alegrias e obrigações da vida (...) E na escola do futuro essas janelas estarão abertas da forma mais escancarada, o professor não só irá olhar mas participará ativamente das obrigações da vida.”
“Só um estado de incômodo social provoca mudança no aparelho psíquico. O bem estar absoluto o mergulharia em um sono profundo.”
“O criador é sempre da espécie dos descontentes”
“O educador racional nunca educa”
“Está claro para qualquer um que quanto mais forte é o incômodo que dá o primeiro impulso ao movimento da alma tanto mais forte é o próprio movimento, que a educação e a criação são sempre trágicas porque partem do incômodo e do mal-estar, da desarmonia.”
“Quanto mais nos sentimos adaptados e confortáveis na vida tanto menos nos resta espírito criador e mais dificilmente nos prestamos à educação.”
“Até hoje o aluno tem permanecido nos ombros do professor. Tem visto tudo com os olhos dele e julgado tudo com a mente dele. Já é hora de colocar o aluno sobre as suas próprias pernas.”
“Até hoje existe infelizmente a convicção de que o processo educativo, por expressar na relação entre o professor e o aluno, na parte mais importante esgota-se na imitação.”
“Não se trata apenas de educação, mas de refundição do homem.”

Analisando os textos de Mônica Mussi e JulioGroppa é possível encontrar uma crítica muito forte ás questões físicas e estruturais da escola, partindo da própria concepção de sala de aula. O espaço da sala de aula que seria o local de expressão, comunicação, crescimento, virou na verdade o espaço de aprisionamento do ser humano. O aluno não aprende mais nada trancado em uma sala de aula que se recusa a fazer parte do mundo exterior, surge o desgosto por este espaço, a solidão, o repúdio, o descontentamento. Surge a vontade incessante de “sair desta prisão”, nem que seja para passear no pátio e no corredor e ver o mundo que o cerca, e fazer parte deste mundo, sentir o vento e a brisa...
No texto de Vigotsky também é possível encontrar esta crítica ás questões estruturais da escola, á própria sala de aula, como podemos ver neste trecho:
“Em cada sala de aula haverá janelas, um professor de verdade irá olhar de sua escrivaninha para o vasto mundo, para as inquietações humanas, as alegrias e obrigações da vida (...) E na escola do futuro essas janelas estarão abertas da forma mais escancarada, o professor não só irá olhar mas participará ativamente das obrigações da vida.”
Além de questionar o espaço físico da sala de aula também é questionado o próprio professor, que se recusa a ver o mundo e a desenvolver em seus alunos conhecimentos significativos para sua vida. Muitos professores estão cegos, não vêem o mundo que os cerca, não participam ativamente deste mundo, estão tão encrustados em um sistema falido de educação que nem sabem mais qual é o seu papel e para que está lá.
“Quanto mais nos sentimos adaptados e confortáveis na vida tanto menos nos resta espírito criador e mais dificilmente nos prestamos à educação.”
Em relação ao sistema educacional Fuganti diz que, por ser submetido a padrões torna-se um processo extremamente frustrante, atualmente, principalmente nas escolas estaduais, o professor perdeu totalmente sua autonomia, ele é obrigado a seguir planejamentos que vem de superiores e estão prontos, em sua maioria totalmente distantes da realidade escolar, são cobradas metas em relação á conteúdos e melhoria e notas, se valoriza apenas os indicativos “numéricos” e não qualitativos. A educação se distancia cada vez mais da vida.
“Todo nosso procedimento educacional traz uma espécie de desgosto sutilmente dosado em cada etapa do processo de aprendizado, uma vez que o ensino dominante em nossas formações sociais não visa um aprendizado potencializador das forças ativas imanentes aos modos criativos de vida. Ao contrário, é parte integrante dos mecanismos que operam a serviço de poderes de captura de vida, impondo um aprendizado baseado na inoculação de uma insuficiência de ser.”
Vigotsky em seu texto “ A Psicologia e o mestre” diz que “Quando o entusiasmo toca a alma tudo se torna vivo e inspirado” cobra do professor que este tenha sempre entusiasmos, nunca se acomode, nunca se contente com as coisas como estão, seja sempre criativo. Sabemos que são questões primordiais estas, mas cobrar do professor que ele seja a salvação de um sistema totalmente falido é um tanto quanto impossível. O professor precisa mudar? Sim! Mas não podemos esquecer que ele é sujeito á normas, padrões, regras, que ele utiliza o espaço físico, os materiais e a estrutura escolar que lhe é fornecida, enquanto todo este sistema não mudar, apenas o passo do professor não será suficiente.
“Só um estado de incômodo social provoca mudança no aparelho psíquico. O bem estar absoluto o mergulharia em um sono profundo.”
“Não se trata apenas de educação, mas de refundição do homem.”
Pensando nestas questões é interessante analisar a fala da professora Amanda Gurgel em uma audiência pública no Rio Grande do Norte sobre a educação:
“Estão me colocando dentro da sala de aula com um giz e um quadro pra salvar o Brasil, é isso? (...) sou eu a redentora do país? Não posso, não tenho condições! Muito menos com o salário que eu recebo!”
A seguir segue o registro da fala inconformada desta professora:
A professora Amanda Gurgel desabafa diante de deputados em audiência pública no RN realizada no dia 10 de maio, demonstrando a situação precária da educação no Brasil. Seguem algumas de suas falas retiradas do vídeo: http://www.youtube.com/watch?v=gQVSksDyED0
“São tantas as angústias do dia-a-dia de quem está em sala de aula, de quem está em escola que eu queria pelo menos sintetizar minimamente essas angústias(...)como as pessoas colocam sempre muitos números e como os números são irrefutáveis, eu gostaria também de apresentar um número pra iniciar a minha fala, que é um número composto por três algarismos apenas (...)que é o número do meu salário, um 9, um 3 e um 0, meu salário base, 930 reais. E aí eu gostaria de fazer uma pergunta á todos e todas que estão aqui, sem nível superior com especialização, se vocês conseguiriam (...) sobreviver ou manter o padrão de vida que vocês mantém com este salário”
“Só quem está em sala de aula, só quem está pegando três ônibus por dia para poder chegar ao seu local de trabalho, (...) é que pode falar com propriedade sobre isso(...) fora isso, qualquer consideração que seja feita aqui é apenas para mascarar uma verdade que é uma verdade visível a todo mundo, que é o fato de que, em nenhum governo, em nenhum momento que nós tivemos em nosso estado, em nossa cidade, em nosso país, a educação foi uma prioridade”
“Me preocupa muitíssimo a fala da maioria aqui (...) que é: -Não vamos falar da situação precária porque isso todo mundo já sabe. Como assim não vamos falar da situação precária? Gente, estamos banalizando isso aí, estamos aceitando a condição precária da educação como uma fatalidade? Estão me colocando dentro da sala de aula com um giz e um quadro pra salvar o Brasil, é isso?”
“Salas de aula superlotadas, com os alunos entrando a cada momento com uma carteira na cabeça porque não tem carteiras nas salas, sou eu a redentora do país? Não posso, não tenho condições! Muito menos com o salário que eu recebo!
“A secretária disse ainda que nós não podemos ser imediatistas, ver apenas a condição imediata, precária, precisamos pensar a longo prazo, mas a minha necessidade de alimentação é imediata, a minha necessidade de transporte é imediata, a necessidade de Jéssica (aluna) de ter uma educação de qualidade é imediata! Eu gostaria de pedir aos senhores que se libertem desta concepção errônea, extremamente equivocada , isso eu digo com propriedade porque sou eu que estou lá, inclusive propriedade maior até do que os grandes estudiosos, que parem de associar qualidade de educação com professor dentro de sala de aula, parem de associar isso aí, porque não tem como você ter qualidade de educação com professores três horários em sala de aula, porque é assim que os professores multiplicam os R$930,00 (...) pra poder sobreviver.”
“Entra governo, sai governo, (...) e sempre o que solicitam da gente é paciência, é tolerância, e eu tenho colegas que estão aguardando pacientemente há 15 anos, há 20 anos, por uma promoção horizontal. Professores que morrem e não recebem uma promoção.(...) nós não aguentamos mais este discurso, o que nós queremos é objetividade,(..) pedimos ainda secretária respeito, pra que a senhora não vá mais á mídia pedindo flexibilidade, como se nós fossemos os responsáveis pelo caos, que na verdade só se apresenta pra sociedade quando nós estamos em greve, mas que está lá todos os dias, dentro da sala de aula, dentro da escola, em todos os lugares.”

Os problemas permanecem, as perguntas permanecem, e as soluções?

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